A disputa pela audiência entre as emissoras de TV sempre foi um tema recorrente, mas, em 1996, essa competição gerou um dos episódios mais controversos da história da televisão brasileira. Para se ter uma ideia, esse acontecimento custou à TV Globo uma multa milionária e culminou até mesmo na criação de um novo código de ética!
Tudo começou durante uma edição do Domingão do Faustão, quando a Globo buscava conter a audiência crescente do Domingo Legal, apresentado por Gugu Liberato no SBT. Na época, o duelo pela atenção do público aos domingos era intenso, e a equipe de Fausto Silva decidiu colocar em prática um plano para se destacar e alavancar o Ibope.
Então, no dia 8 de setembro daquele ano, o programa recebeu o capixaba Rafael Pereira dos Santos, um jovem de 15 anos com síndrome de Seckel, uma rara condição genética que causa nanismo, microcefalia e limitações físicas e intelectuais. Em razão da síndrome, Rafael tinha apenas 87 centímetros de altura e 8 quilos, e sua presença foi explorada de forma lamentável
O rapaz chegou caracterizado como Latino, um dos convidados do programa naquele fatídico dia. Após uma sequência de piadas de mau gosto, o cantor e o menino se juntaram para cantar a música "Louca" no palco – na verdade, só Latino cantou, enquanto o "Latininho" ficou exposto a uma situação vexatória em rede nacional.
Depois da constrangedora apresentação musical, Fausto ainda chamou ao palco o grupo Café com Bobagem e o humorista César Macedo – o Seu Eugênio da Escolinha do Professor Raimundo –, agravando toda a situação. A cada fala, Rafael era ridicularizado, tornando-se alvo de risadas e humilhações, sem entender o que acontecia.
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O momento apelativo atingiu 30 pontos de audiência, mas o programa, como era de se esperar, recebeu duras críticas do público e da imprensa nos dias seguintes, e a Globo não saiu impune. Por conta da exploração e da humilhação, a emissora foi condenada a pagar uma indenização de 1 milhão de reais ao garoto e sua família.
Além disso, o caso foi um dos motivos que levaram o programa a adotar um novo Código de Ética, conforme reportado pela Folha de S. Paulo em 1999. Entre as diretrizes estava o veto à "transformação em espetáculo do erótico, do pornográfico, do bizarro, da tragédia e da miséria humanas" e o compromisso com o bom gosto e o bom senso.
"Fui pego de surpresa": cantor Latino se pronunciou
Latino nunca havia se pronunciado publicamente sobre isso até 2021, quando, em uma participação no programa A Noite é Nossa, da Record, ele afirmou que não sabia das humilhações que aconteceriam naquele dia. "Eu estava ali fazendo meu papel de cantar, dançar, levar alegria para as pessoas, e de repente estava rolando essa pauta desse fã mirim", disse.
Eu estava achando que era uma criança, também fui pego de surpresa. Quando fui ver, estava na capa da Veja, junto com o Fausto, envolvido em uma polêmica que eu, de fato, não tinha nada a ver
O artista se referiu a uma edição da revista Veja publicada após o caso de Latininho, cuja capa apresentava uma imagem de Fausto segurando a mão de Rafael no palco do
programa, acompanhada do título "Mundo cão na TV: Até onde vai a apelação?"
rescreva a noticia que nao pareça plagio
Um dos episódios mais polêmicos da televisão brasileira aconteceu em 1996 e gerou uma multa milionária para a Globo, além de influenciar mudanças no código de ética da emissora.
Na época, a Globo e o SBT disputavam intensamente a audiência de domingo, com "Domingão do Faustão" competindo diretamente com "Domingo Legal", comandado por Gugu Liberato. Para enfrentar o crescimento de audiência do concorrente, o "Domingão" fez uma aposta controversa em um de seus programas.
Em 8 de setembro de 1996, a atração recebeu Rafael Pereira dos Santos, um jovem capixaba de 15 anos que tinha síndrome de Seckel, uma condição genética rara que provoca nanismo, microcefalia e limitações físicas e intelectuais. Rafael, que media 87 centímetros e pesava apenas 8 quilos, foi apresentado como "Latininho", uma versão miniatura do cantor Latino, convidado especial do dia. Durante o programa, ele foi submetido a piadas e comentários de mau gosto, enquanto o cantor apresentava a música "Louca". Embora apenas Latino cantasse, Rafael estava em uma situação que causou desconforto e indignação.
Após a performance, o programa trouxe ao palco o grupo Café com Bobagem e o humorista César Macedo, intensificando o tom de deboche e expondo Rafael a mais humilhações. A audiência, embora alta, veio acompanhada de críticas contundentes, levando o público e a mídia a expressarem repúdio pelo tratamento dado ao jovem.
Como consequência, a Globo foi condenada a pagar uma indenização de 1 milhão de reais à família de Rafael. O caso gerou uma reflexão sobre os limites do entretenimento e motivou a criação de um código de ética mais rígido na emissora, que incluía a proibição de transformar temas delicados e pessoas vulneráveis em entretenimento apelativo.
Anos depois, em 2021, o cantor Latino comentou o episódio durante uma entrevista, dizendo que desconhecia a natureza da situação e que, assim como Rafael, foi pego de surpresa com o teor da "brincadeira". O episódio marcou um divisor de águas na história da TV, destacando a importância da responsabilidade ética no entretenimento.